Conta a história que, por volta de 500 a.C, terão os indianos sido o primeiro povo a conseguir extrair e produzir o açúcar, que era inicialmente usado como produto medicinal ou especiaria rara, de valor monetário tão elevado que só a nobreza possui acesso.
O açúcar, substância alimentar sem valor nutricional, e com valor calórico (4kcal/g) fornecedor de calorias vazias, de rápida absorção, mostra cada vez mais ser a causa de distúrbios metabólicos, que podem conduzir a doenças graves começando na infância.
Presente nas nossas mesas há séculos, o açúcar usado ao pequeno-almoço, na preparação de refeições, como sobremesas, iguarias conventuais e até pratos principais, passou para a lista negra dos alimentos, vindo ao longo dos últimos anos a ser classificado como uma “droga”.
São poucos ou raros os que lhe conseguem resistir, está por hábito presente em todo o tipo de comemoração, é o nosso “aliado” quando nós sentimos mais tristes, pois confere-nos uma sensação de prazer, sabe bem.
Mas porquê, será que o açúcar se torna um vício?
Cada vez mais comparado ao tabaco, funciona no nosso corpo ao nível neurológico, ou seja, estimula a secreção de neurotransmissores, nomeadamente a serotonina e a dopamina conferindo-nos a sensação de prazer, contudo estudos mostras que dada a prematuridade com que é introduzido na vida das nossas crianças, os seus efeitos podem ser ainda mais nefastos que o tabaco, quando comparados. E dada a adaptação do organismo, temos necessidade de aumentar o seu consumo, para o efeito de prazer continuar presente.
Cada vez mais associado a má alimentação e usado amplamente pela indústria alimentar, para o prolongamento de prazos de validade ou intensificar o sabor dos alimentos, o açúcar está muitas vezes oculto ao olhar do consumidor, por lhe serem atribuídas outras designações (maltose, dextrose, frutose, glícidos, xarope de milho, xarope de arroz, etc). Este fato faz que desde criança haja uma elevada exposição a este tipo de alimentos, pois a grande maioria dos produtos de consumo diário, destinados as crianças, possuem teores de açúcar e até de sal muito elevados.
É então o ‘açúcar o maior veneno que damos às crianças’?
Estamos a consumir açúcar em excesso, a OMS recomenda que o consumo diário não exceda os 10% das necessidade diárias e que deveria estar abaixo dos 5%, ou seja as 25g de açúcar se falarmos num adulto saudável, mas usar o mínimo possível, em especial nas crianças, no entanto, estudos mostram que há crianças que diariamente consomem até 20 pacotes, dando uma média de 125g de açúcar.
As crianças têm uma tendência natural para os sabores doces, desde o leite materno com os açúcares naturais, até aos primeiros alimentos introduzidos na diversidade alimentar, que é feito pelas papas, cereais e frutas, daí ser fundamental o atraso das restantes fontes de açúcar não natural na sua alimentação.
Como se reflete esta realidade na nossa saúde?
Através de alterações metabólicas, patologias como diabetes mellitus tipo 2, hipertensão arterial, alterações lipídicas no sangue, ácido úrico elevado, obesidade, alterações cardiovasculares (Enfarte do miocárdio ou AVC), complicações mais frequentes nos adultos ou idosos, mas que já se verificam na pediatria e constituem o chamado Síndrome Metabólico.
Desta forma, mesmo que os pais tenham em casa filhos magros, ou com aparente ausência de alterações pela falta de massa gorda, não devem descuidar os cuidados no controlo de açúcar que permitem ou fornecem às crianças. A maioria destas patologias é silenciosa, não doí, mas causa dano a longo prazo.
No entanto a culpa não é exclusiva do açúcar, mas sim do exagero ou do excesso praticado pelos consumidores. Aparecendo de forma camuflada, está presente em quase todo o tipo de alimentos, desde os refrigerantes, néctares, molhos processados, pão, salsichas, comida para bebés, um número indeterminado de produtos já preparados, pois há poucos alimentos processados onde a industria alimentar não coloque açúcar. Assim é importantes os pais perceberem esta realidade e mudarem os hábitos e as rotinas das refeições das crianças, começando por dar o exemplo, nas boas escolhas alimentares.
Concluindo, porque a alimentação é um ponto fundamental, para o bom estado de saúde e para a prevenção da doença:
– A quantidade máxima de açúcar a usar deve ser sempre a mínima possível, em especial nas crianças e deve ser inserida na vida da criança o mais tarde possível;
– A redução drástica da ingestão de açúcar no dia-a-dia é a melhor forma de prevenir doenças metabólicas como as referidas anteriormente e para isto, a importância da leitura do rótulo dos produtos alimentares é fundamental, pois são os alimentos processados que possuem mais açúcar de adição.
– Nos alimentos como os cereais, leite e derivados, frutas, leguminosas e hortaliças, estão presentes todos os açúcares da qual precisamos, os hidratos de carbono complexos com fibras, vitaminas e açúcares naturais de lenta absorção no organismo.
[NOTA: Calorias vazias: designamos por fornecedores de calorias vazias os alimentos que nos fornecem energia através das calorias, mas que não contêm ou não são fornecedores de nutrientes, indispensáveis ao organismo; OMS:Organização Mundial de Saúde]. “
Dra. Joana Malheiro